25.9.14

O Corpo Fala

WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O CORPO FALA: A linguagem silenciosa da comunicação não-verbal. Petrópolis, Vozes, 2007.

"Pela linguagem do corpo, você diz muitas coisas aos outros. E eles têm muitas coisas a dizer para você. Também nosso corpo é antes de tudo um centro de informações para nós mesmo."


Desde os primórdios da existência do ser humano na terra, a utilização de símbolos enquanto "mensagens sintéticas de significado convencional" surge como ferramenta para auxiliar na comunicação e facilitar a compreensão do mundo. À exemplo, podemos comparar o sinal vermelho do farol com os primeiros contatos com o fogo se alastrando pela mata seca ou  com o sangue escorrendo de uma ferida onde o homem pré-histórico já entende que a cor vermelha funciona como um sinal de atenção.

Assim, Weil se apropria desses símbolos ao comparar o corpo humano à esfinge assíria conhecida como Kerub. A esfinge é dividida em quatro partes: corpo de boi, tórax de leão, asas de águia e cabeça de homem. Da mesma forma, esta composição possui correspondências psicológicas no ser humano, como mostra o esquema abaixo:


Em cada parte correspondente ao psicológico, o corpo se comunica através de ações, que podem ser sutis, com duração curta de tempo, ou podem ter certa expansividade.

Para perceber quando o Boi é colocado em evidência, observa-se o avanço da região abdominal naquele que quer se alimentar ou o rebolado exagerado da mulher que quer se exibir para o rapaz que, ao apoiar o polegar no cinto, aponta em direção às genitais, demonstrando sem perceber seu interesse. Todos estes exemplos demonstram o estado de  vida instintiva, através da linguagem corporal.

Já no Leão, que atua na esfera do emocional, o caráter psicológico se evidencia no tórax, onde está o coração (centro da emoção), também entendido como centro do "eu". Percebemos, então, que pessoas orgulhosas de si, egocêntricas, até narcisistas, se impõem através da preponderância do tórax. E em pessoas reprimidas, com seu "eu" diminuído, sentindo-se dominadas em determinados momentos, o tórax se retrai, encolhendo-se o máximo que pode, numa tentativa de se esconder. Nota-se em pessoas equilibradas, bem entendidas, uma postura mediana e normal.


Finalmente a águia, representada pela cabeça, expressa o estado mental. Neste, se a pessoa apresentar uma cabeça bem erguida, demonstra hipertrofia de controle mental, como reafirmando a preponderância do "eu" antes citado. Do contrário, uma cabeça baixa demonstra que o indivíduo se deixa controlar por estímulos externos. A pessoa que consegue controlar sua mente tem uma postura mediana como no caso do Leão. Entretanto, a Águia é sempre mais sincera em suas ações. Para perceber o estado mental de alguém, basta observar a atitude da cabeça, principalmente a face, pois este explicita a aprovação ou rejeição aos instintos e emoções do corpo. Neste caso, entende-se que na prática o corpo responde de acordo com os estímulos psicológicos, que de maneira geral tais ações podem ter concordância ou discordância com relação ao estado mental do corpo.

18.9.14

As Técnicas do Corpo

MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo; Cosac Naify; 2003.


"Toda sociedade impõe ao indivíduo um uso rigoroso do seu corpo. É por meio da educação, das necessidades e das atividades corporais que a estrutura social impõe sua marca sobre os indivíduos." 

Mauss entende o corpo como uma ferramenta fundamental para a construção simbólica e cultural. As características fisiológicas do corpo diferem apenas nas diferentes culturas. No entanto, entre os indivíduos de uma mesma cultura, essas características são muito parecidas, impostos pela estrutura social. Os estereótipos são modelados nos comportamentos, de acordo com o local e tempo da sociedade. De acordo com o autor, aspectos fisiológicos são "critérios sancionados pela aprovação e desaprovação coletiva, mais do que função de particularidades individuais." Aqui, o corpo é entendido como um produto de suas técnicas e de suas representações.

Técnicas corporais

Para Mauss, as técnicas corporais referem-se à "atos tradicionais e eficazes que combinam elementos biológicos, psicológicos e socioculturais, sem que os principais agentes e objetos tenham sempre consciência disso". Ele, então, sintetiza essa compreensão dos estudos em técnicas do corpo como antropologia do gesto: estudos da relação com os hábitos corporais, das técnicas e condutas tradicionalmente apreendidas e transmitidas. Trata-se, enfim, de um sistema simbólico de comunicação e pensamento atrelado ao coletivo.
De modo geral, o corpo é tido como o principal objeto e meio técnico de contato do homem com o mundo. E suas técnicas são um conjunto de atitudes permitidas ou não, naturais ou não. "Toda técnica propriamente dita tem sua forma". No campo psicológico, o indivíduo apreende tais técnicas de forma generalizada, associando todo ato social à técnica corporal. "Ato técnico, ato físico e ato magico-religioso confundem-se para o agente".