15.11.14

Lendo as Imagens do Cinema

JULLIER, Laurent & MARIE, Michel. Lendo as Imagens do Cinema.

Dialogando acerca da linguagem cinematográfica, os autores trazem a perspectiva de que trata-se de ferramentas intrínsecas no audiovisual que proporcionam uma comunicação melhor com o espectador, facilitando sua compreensão através dos elementos constituintes nas imagens. Ou seja, cada detalhe na imagem e no som do audiovisual está inserido de acordo com o que o autor quer comunicar. Cada cena deve ser pensada antes da gravação, no momento em que se decidem os planos que melhor se enquadram na proposta, se a câmera se movimenta ou se manten-se fixa, se as paletas de cores dialogam com o idéia que se quer passar.
A partir dessa perspectiva, os autores analisam uma série de produções audiovisuais, observando as diversas linhas de estilo, pensando primeiramente no filme como um todo, e depois nas sequências das cenas, desde as mais envolventes até as mais "vazias".

As ferramentas de análise fílmica

Ponto de vista. Apresentado pela localização da câmera, de onde o câmera se posicionará, se este será observador ativo ou passivo na cena. "Nenhum ponto de vista é neutro. Todas as posições da câmera conduzem uma série de conotações." (p. 22).
Assim, o condutor da câmera poderá decidir por uma imagem subjetiva como:

  • 'Olhar com', como se estivesse ao lado da personagem em cena;
  • 'Olhar no lugar de', pensando na visão da câmera como se fosse a visão do próprio personagem;
  • 'Campo e contra-campo', sendo a troca de plano sobre o dialogo dos personagens, alternando;
  • Os 'planos' são essenciais, pois delimitam no quadro o assunto a ser tratado. O 'plano geral' indica o sujeito em seu ambiente. O 'plano medio' mostra o sujeito em sua unidade, ou até um grupo de pessoas próximas entre si, denota o estado de espírito dos sujeitos em cena. O 'close-up' ou 'plano fechado' isola o detalhe de um todo, dando sentido específico à cena, além de certa intimidade.
Plano Geral

Plano Médio

Plano Fechado
  • 'Centralizar' o sujeito na imagem sugere uma ideia de um personagem equilibrado, centrado e/ou egocêntrico;
  • 'Descentralizar' ou dispor o sujeito ao longo dos eixos que dividem o quadro em três (3/3) pode sugerir uma série de conotações. As mais comumente usadas são a clássica e a maneirista.
Clássica

Maneirista
  • 'Câmera alta' ou 'Plongeé', denota a inferioridade do sujeito em cena, enquanto a 'Câmera baixa' ou 'Contra-plongeé' sugere a superioridade deste sujeito;
  • A 'frontalidade' do enquadramento pode ser trabalhada a fim de se ganhar muito mais vida quando exploradas as mais variadas angulações da câmera; neste caso, entende-se a câmera como o sujeito que assiste (olhar-câmera);
  • Pode-se trabalhar o 'paralelismo' do quadro, onde é possível dispôr de um bom equilíbrio, mas também é possível trabalhar com o 'desenquadramento', sugerindo o desequilíbrio ou embriaguez;
  • Quanto ao 'ponto de escuta', tanto pode acompanhar o ponto de vista, seguindo o modelo do corpo humano (som segue a visão), ou pode se desassociá-los dependendo da proposta.

Distância Focal e Profundidade de Campo. 
Este primeiro dita o enquadramento  e varia a partir da utilização das lentes de maior ou menor tamanho.
  • DF curta - Objetiva Grande-Angular (menor que 50mm);
  • DF média - Objetiva Padrão (50mm);
  • DF longa - Teleobjetiva.
Já a profundidade de campo dita a nitidez de acordo com o eixo da objetiva: quanto menor a distância focal, maior a profundidade de campo; quanto mais distante, mais bidimensional fica a imagem, como uma pintura. O ajuste da profundidade regula a imagem dirigindo a atenção para um ponto específico.
A profundidade de campo e o foco funcionam como linguagem estética e narrativa: 

  • + PC e + nitidez nos planos faz a cena ficar toda visivel, podendo serem contadas varias histórias na mesma imagem;

  • + PC e - Foco em um ou em outro plano, volta a atenção para a figura que está nítida na imagem;

  • Podem ser trabalhados também o 'foco duplo' (que necessita de uma lente específica), e o 'desfoque' que brinca com a subjetividade da imagem.
Os Movimentos da Câmera. Neste ponto, tratando-se de imagem em movimento, as várias possibilidades de movimento podem auxiliar e fortalecer na comunicação visual.
O movimento 'Panorâmico' funciona como a ação de virar a cabeça, enquanto o 'Travelling' seria o deslocamento de todo o corpo. Ao aproximar a imagem sobre um elemento específico pode ser trabalhado com o 'Travelling', mas também com o 'Zoom' da lente, no entanto existem diferenças ópticas e de distância focal, e cada uma dá uma textura para a imagem.
Outros elementos de movimento vão surgindo na história do fazer cinematográfico, como a 'fluidez' conseguida com os mecanismos que os irmãos Lumiére  utilizam ao colocar a câmera em um trem, que evoluem através do desenvolvimento de meios técnicos. A 'manejabilidade' produz efeitos de maior proximidade com o olhar humano, e é conseguida com câmeras mais leves, ao colocar a camera no ombro, ou através de movimentos biomecânicos.